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26 de maio de 2012

Máximas e Mínimas do Barão de Itararé - Colaborador: Manuel



. De onde  menos se espera, daí é que não sai nada. 

. Mais  vale um galo no terreiro do que dois na testa. 

. Quem  empresta, adeus... 

. Dize-me  com quem andas e eu te direi se vou contigo. 

. Pobre,  quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos. 

. Quando  pobre come frango, um dos dois está doente. 

. Genro é  um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.   

. Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre.   

. Quem só  fala dos grandes, pequeno fica. 

. Viúva  rica, com um olho chora e com o outro se explica. 

. Depois  do governo ge-gê, o Brasil terá um governo ga-gá. ( Ge-gê: apelido de  .  . Getulio Vargas. Ga-gá: referia-se às duas primeiras letras no  sobrenome do novo presidente, Eurico Gaspar Dutra). 

. Um bom  jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do  jornal encher nababescamente a barriga. 

.  Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.   

. O voto  deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o eleitor não terá  vergonha de votar no seu candidato. 

. Os  juros são o perfume do capital. 

.  Urçamento é uma conta que se faz para saveire como debemos aplicaire o  dinheiro que já gastamos. 

.  Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.   

. O banco  é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar  provas suficientes de que não precisa de dinheiro. 

. A  gramática é o inspetor de veículos dos pronomes. 

. Cobra é  um animal careca com ondulação permanente. 

. Tudo  seria fácil se não fossem as dificuldades. 

. Sábio é  o homem que chega a ter consciência da sua ignorância. 

. Há  seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem.   

. É mais  fácil sustentar dez filhos que um vício. 

. A  esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados. 

.  Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia  ficará chato como o pai. 

. O  advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo  dos nossos inimigos e os guarda para si. 

. Senso  de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de  raiva se acontecesse com você. 

. Mulher  moderna calça as botas e bota as calças. 

. A  televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.   

. Este  mundo é redondo, mas está ficando muito chato. 

. Pão,  quanto mais quente, mais fresco. 

. A  promissória é uma questão "de...vida". O pagamento é de morte.   

. A forca  é o mais desagradável dos instrumentos de corda. 



. Deus dá peneira a quem não  tem farinha.   

. Testamento de pobre se  escreve na unha.   

. Tempo é dinheiro. Vamos,  então, fazer a experiência de pagar as nossas dívidas com o tempo.     

. Precisa-se de uma boa  datilógrafa. Se for boa mesmo, não precisa ser datilógrafa.     

. O fígado faz muito mal à  bebida.   

. O casamento é uma tragédia  em dois atos: um civil e um religioso.   

. Com as crianças é  necessário ser psicólogo. Quando uma criança chora, é porque quer balas.  Quando não chora, também. 

  . O  menino, voltando do colégio, perguntou à mãe: 

-- Mamãe, por que é que  pagam o ordenado à professora, se somos nós que fazemos os deveres?   

  . O  feio da eleição é se perder.   

. A moral dos políticos é  como elevador: sobe e desce. Mas, em geral, enguiça por falta de energia,  ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes  que confiam nele.   

. Com dinheiro à vista toda  gente é benquista.   

. Se você tem dívida, não se  preocupe, porque as preocupações não pagam as dívidas. Nesse caso, o  melhor é deixar que o credor se preocupe por você.     

. Palavras cruzadas são a  mais suave forma de loucura.   

. A alma humana, como os  bolsos da batina de padre, tem mistérios insondáveis. 

   . O homem cumprimentou o  outro, no café. 

-- Creio que nós fomos  apresentados na casa do Olavo. 

-- Não me recordo.   

-- Pois tenho certeza. Faz  um mês, mais ou menos. 

-- Como me reconheceu?   

-- Pelo guarda-chuva.   

-- Mas nessa época eu não  tinha guarda-chuva... 

-- Realmente, mas eu  tinha... 
 
. O homem é um animal que  pensa; a mulher, um animal que pensa o contrário. O homem é uma máquina  que fala; a mulher é uma máquina que dá o que falar.     

. O homem que se vende  recebe sempre mais do que vale.   

. O mal alheio pesa como um  cabelo.   

. A solidez de um negócio se  mede pelo seu lucro líquido. 

. Que faz o peixe,  afinal?... Nada. 

. A sombra do branco é igual  a do preto. 

. "Eu Cavo, Tu Cavas, Ele  Cava, Nós Cavamos, Vós Cavais, Eles Cavam. Não é bonito, nem rima, mas é  profundo... 

. Tudo é relativo: o tempo que dura um minuto depende  de que lado da porta do banheiro você está. 

. Nunca desista do seu  sonho. Se acabou numa padaria, procure em outra! 

. Devo tanto que,  se eu chamar alguém de "meu bem" o banco toma! 

. Viva cada dia como  se fosse o último. Um dia você acerta... 

   
Uísque e mulher  ranzinza

Eu tinha doze  garrafas de uísque na minha adega e minha mulher me disse para despejar  todas na pia, porque se não... 

- Assim seja!  Seja feita a vossa vontade, disse eu, humildemente. E comecei a  desempenhar, com religiosa obediência, a minha ingrata tarefa.   

Tirei a rolha da primeira  garrafa è despejei o seu conteúdo na pia, com exceção de um copo, que  bebi. 

Extraí a rolha da segunda  garrafa e procedi da mesma maneira, com exceção de um copo, que  virei. 

Arranquei a rolha da  terceira garrafa e despejei o uísque na pia, com exceção de um copo, que  empinei. 

Puxei a pia da quarta rolha  e despejei o copo na garrafa, que bebi. 

Apanhei a quinta rolha da  pia, despejei o copo no resto e bebi a garrafa, por  exceção. 

Agarrei o copo da sexta pia,  puxei o uísque e bebi a garrafa, com exceção da rolha. 

Tirei a rolha seguinte,  despejei a pia dentro da gar­rafa, arrolhei o copo e bebi por  exceção. 

Quando esvaziei  todas as garrafas, menos duas, que escondi atrás do banheiro, para lavar a  boca amanhã cedo, resolvi conferir o serviço que tinha feito, de acordo  com as ordens da minha mulher, a quem não gosto de contrariar, pelo mau  gênio que tem. 

Segurei então a  casa com uma mão e com a outra contei direitinho as garrafas, rolhas,  copos e pias, que eram exatamente trinta e nove. Quando a casa passou mais  uma vez pela minha frente, aproveitei para recontar tudo e deu noventa e  três, o que confere, já que todas as coisas no momento estão ao contrário.   

Para maior  segurança, vou conferir tudo mais uma vez, contando todas as pias, rolhas,  banheiros, copos, casas e garrafas, menos aquelas duas que escondi e acho  que não vão chegar até amanhã, porque estou com uma sede louca ...   

Apparício Torelly, (o "Barão  de Itararé), que também usou o pseudônimo de "Apporelly", era gaúcho de  Rio Grande, nascido em 29/01/1895. Estudou medicina, sem chegar a terminar  o curso, e já era conhecido quando veio para o Rio fazer parte do jornal O  Globo, e depois de A Manhã, de Mário Rodrigues, um temido e desabusado  panfletário. Logo depois lançou um jornal autônomo, com o nome de "A  Manha". Teve tanto sucesso que seu jornal sobreviveu ao que parodiava.  Editou, também, o "Almanhaque — o Almanaque d'A Manha". Faleceu no Rio de  Janeiro em 27/11/71. O "herói de dois séculos", como se intitulava, é um  dos maiores nomes do humorismo nacional. Extraído de "Máximas e Mínimas do  Barão de Itararé", Distribuidora   Record de Serviços de Imprensa -  Rio de Janeiro, 1985, págs. 27 e 28, coletânea organizada por Afonso Félix  de Souza. 


Apparício Torelli, Barão de  Itararé, o Brando, (1895/1971), "campeão olímpico da paz",  "marechal-almirante e brigadeiro do ar condicionado", "cantor lírico",  "andarilho da liberdade", "cientista emérito", "político inquieto",  "artista matemático, diplomata, poeta, pintor, romancista e bookmaker",  como se definia, era gaúcho e é um dos maiores humoristas de todos os  tempos.    Dele disse Jorge Amado: "Mais que um pseudônimo, o  Barão de Itararé foi um personagem vivo e atuante, uma espécie de Dom  Quixote nacional, malandro, generoso, e gozador, a lutar contra as mazelas  e os malfeitos".